sexta-feira, 3 de setembro de 2021

 Síndrome de Dâmocles: o que é e quais são seus sintomas

 

Ao longo da história, muitas fábulas e histórias serviram como fonte de inspiração para contextualizar alguns fenômenos mentais na gíria psicológica.

 
A síndrome de Dâmocles, por exemplo , vem de uma história típica da cultura grega clássica, na qual um jovem e lisonjeiro cortesão é punido por seu mestre, Dionísio II.

Neste artigo, saberemos do que se trata essa história, bem como seus antecedentes psicológicos e por que ela serviu de inspiração para a síndrome que leva seu nome.

 O que é a síndrome de Damocles?

Esta síndrome é nomeada após uma fábula da cultura grega antiga . Vamos ver do que se trata essa fábula.

Dâmocles era um jovem cortesão, mais lisonjeiro com seu mestre, o tirano Dionísio II, que governou Siracusa entre 367-357 aC. C. e novamente estava entre 346-344 a. C.

Em uma ocasião, Dionísio decide punir seu fiel servo, dando-lhe uma lição por causa de sua devoção exagerada a ele. O tirano propõe a Dâmocles mudar de lugar durante uma refeição e, dessa maneira, ele dá seu lugar privilegiado à mesa, juntamente com todas as atenções, como se Dâmocles fosse o governante absoluto do lugar.

O cortesão gostava de comer, beber e desfrutar de atenção pessoal das mulheres locais.

No final da refeição, Damocles olha para cima e observa que há uma espada extremamente afiada presa ao teto , acima de sua cabeça, apenas por um fio fino de crina de cavalo.

Quando ele percebeu essa situação, todo o desejo de continuar comendo foi removido, e ele nunca quis receber o “privilégio” de sentar lá novamente.

A partir dessa história, surge a síndrome de Damocles, mencionada acima, cunhando o termo como uma referência aos perigos que podem surgir quando menos o imaginamos, ou quando tudo parece estar indo bem.

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 Antecedentes psicológicos do mito

No campo da psicologia, esse termo foi adotado como uma metáfora para se referir ao estado de ansiedade que alguns pacientes apresentam após terem superado uma determinada doença .

Geralmente, essa síndrome geralmente ocorre com muita frequência em pacientes com câncer que conseguem superá-la de uma maneira aparentemente bem-sucedida. É comum que, depois de conhecer as notícias, elas se empolguem e uma sensação indizível de satisfação as invada.

Mas, depois de um tempo, começa a surgir uma preocupação irracional sobre uma possível recaída , e eles começam a temer que, a qualquer momento, quando menos esperem, o câncer volte a estar presente em suas vidas, caindo sobre eles como a espada que Ele pairava sobre a cabeça de Damocles.

É assim que, desde o primeiro momento em que esses pensamentos intrusivos chegam à vida do sujeito, uma provação começa para eles, no sentido de que sua tranqüilidade já está bastante comprometida pelo medo e pela ansiedade de uma recaída. .

Sintomas

 É natural que, depois de superar uma doença complicada, como o câncer, seguindo o exemplo do exemplo anterior, os pacientes sintam um pouco de angústia com a continuidade do seu estado de saúde.

É por isso que para determinar que uma pessoa está apresentando essa síndrome deve atender aos seguintes critérios:

  • O medo da recaída deve ser irracional e muito intenso .
  • O sujeito apresenta altos níveis de ansiedade antes de realizar exames de rotina.
  • A angústia começa um pouco depois de ser descarregada .
  • Presença de pensamentos intrusivos e catastróficos.

É importante ter em mente que o comportamento ansioso no sujeito deve ser intenso e prevalente por um período de tempo significativo ; caso contrário, pode ser devido a alguma situação específica e não à síndrome de Dâmocles.

De qualquer forma, a síndrome de Damocles não é uma categoria clínica oficialmente reconhecida nos manuais de psiquiatria.

O que fazer nesta situação?

Considerando que essa síndrome se baseia principalmente em intensa ansiedade e estados de ansiedade causados ​​por pensamentos catastróficos intrusivos, o tratamento é dividido em sessões de psicoterapia para o paciente e aconselhamento para familiares .

No caso do paciente, o processo é baseado em fazê-lo entender sua situação real, que ele é um sobrevivente e que esse deve ser um motivo de alegria e motivação para ter uma vida plena.

Ele procura manter o sujeito no aqui e agora , impedindo que seus pensamentos sejam mais rápidos do que a realidade que ele está vivendo naquele momento. A psicoterapia baseada em métodos cognitivos comportamentais é eficiente durante as sessões.

No caso dos familiares, o processo consiste em educá-los para que não desempenhem papel contraproducente na vida do sujeito em questão ; Muitas vezes acontece que, devido à ignorância, a família age de maneira errada e pode se tornar extremamente protetora da pessoa, deixando-a ainda mais ansiosa.

E às vezes acontece o oposto: como eles acham que ele se recuperou completamente, eles acreditam que é melhor mantê-lo longe de todo o ambiente de hospitais e médicos.

Nenhuma dessas posições está correta, o ideal é seguir o que é indicado pelos especialistas, comparecer a consultas quando agendadas para exames de rotina e não tomar decisões com base em crenças pessoais.

Referências bibliográficas:

Baker, K. (1987). Enciclopédia da Benet’s Re.ader.

segunda-feira, 15 de março de 2021

 

O QUE FAZER COM OS IGNÍFEROS?

"Uma das possíveis versões de um velho conto sobre a origem do assado é esta:

Certa vez houve um incêndio num bosque onde se achavam uns porcos. Esses se assaram. Os homens, acostumados a comer carne crua, os provaram e os acharam saborosos. Logo, cada vez que queriam comer porcos assados, punham fogo em um bosque. Até que descobriram um novo método.

Mas o que quero narrar é o que aconteceu quando se tentou modificar o SISTEMA para um novo.


Havia muito tempo que as coisas não andavam bem: os animais se carbonizavam, às vezes ficavam parcialmente crus, outras ficavam de tal maneira queimados que era impossível utilizá-los. Como era um procedimento montado em grande escala, preocupava muito a todos, porque, se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram igualmente grandes. Milhares eram os que se alimentavam de carne assada e também milhares eram os que se ocupavam desta tarefa. Portanto, O SISTEMA simplesmente não podia falhar. Mas, curiosamente, à medida que crescia em maior escala, mais parecia falhar, causando maiores perdas.

Por causa das deficiências, aumentavam as queixas e era do conhecimento geral a necessidade de reformar o SISTEMA. Tanto, que todos os anos se reuniam Congressos, Seminários, Conferências, Jornadas, para achar a solução. Mas parece que não acertavam em melhorar o mecanismo, porque, nos anos seguintes, voltavam a se reunir em Congressos, Seminários, Conferencias e Jornadas. E, assim, sempre.

As causas do fracasso do Sistema, segundo os especialistas, deviam prender-se à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam ficar, ou, talvez, à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou às arvores, excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava qual o momento, lugar e intensidade dos ventos, ou…

As causas eram, como se vê difíceis de determinar, porque na verdade, O SISTEMA para assar porcos era muito complexo: havia-se montado uma grande estrutura e uma grande maquinaria com inúmeras variáveis, havia-se institucionalizado. Havia indivíduos dedicados a incendiar: OS IGNÍFEROS, que por sua vez eram especialistas de setores: incendiador de ignífero de zona norte, zona oeste, etc.; incendiador noturno, diurno com especialização matinal ou vespertina, incendiador de verão e inverno (com disputas jurisdicionais s/o outono e a primavera). Havia especialistas em vento: OS ANEMOTÉCNICOS. Havia um Diretor Geral de Assamento e Alimentação Assada, um Diretor de Técnicas ÍGNEAS (com seu Conselho Geral de Assessores), um Administrador Geral de Reflorestamento Incindiável, uma Comissão Nacional de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentares (o ISCETA) e o Bureau Orientador de Reformas Ígneo-Operativas (BODRIO).

O BODRIO era tão grande que tinha aproximadamente 7.000 porcos para um Inspetor de Reformas. E era precisamente o BODRIO que promovia os Congressos, Seminários, Conferências e Jornadas. Mas estes só pareciam servir para aumentar o BODRIO em burocracia.

Haviam-se projetado e estava em pleno crescimento a formação de novos bosques e florestas, seguindo as últimas indicações técnicas (em regiões escolhidas, seguindo uma determinada orientação: onde os ventos não sopram mais de 3 horas seguidas, onde era reduzida a percentagem de umidade, etc.).

Havia milhares de pessoas trabalhando na preparação desses bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas na Europa e nos Estados Unidos, estudando a importação de madeiras, árvores, sementes, tipos de melhores e mais potente fogos, estudando estratégias operacionais (por exemplo: fazer poços para que neles caíssem os porcos). Havia ainda grandes instalações para conservar os porcos antes do incêndio, mecanismos para deixá-los sair no momento oportuno, técnicos em sua alimentação.

Havia especialistas na construção de estábulos para porcos; professores formadores de especialistas na construção de estábulos para porcos, universidades que preparavam formadores de especialistas na construção de estábulos para porcos; investigadores que fiscalizavam o trabalho das universidades que preparavam professores formadores de especialistas da construção de estábulos para porcos.

As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo: aplicar triangularmente o fogo à razão de ?a-1 pela velocidade de vento; soltar os porcos 15 minutos antes que o fogo médio do bosque alcançasse 47°C; outros diziam que era necessário colocar grandes ventiladores que serviriam para orientar a direção do fogo e assim por diante. E, não é preciso dizer, muitos porcos estavam de acordo entre si e cada um tinha investigações e pesquisas para provar suas afirmações.

Um dia, um IGNÍFERO categoria SO/DM/V-LL, ou seja, um Incendiador de Bosques, Especialidade Sudoeste, Diurno Matinal, Licenciatura em Verão Chuvoso, chamado JOÃO SENSO COMUM, disse que o problema era muito fácil de resolver. Tudo consistia segundo ele em que primeiro se matasse o porco cru, que fosse limpo e cortado adequadamente e colocado em uma rede metálica, ou em uma armação sobre brasas, até que pelo efeito do calor e não da chama, estivesse assado.

– ‘Matar?’ Exclamou indignado o Administrador de Reflorestamento.

– Quem mata é o fogo. Nós não matamos nunca!

Inteirado, o Diretor Geral de Assamento mandou chamá-lo, perguntou-lhe que coisas raras andava dizendo por aí e, depois de escutá-lo disse:

– O que você fala está bem, mas só em teoria. Não vai dar certo na prática, é impraticável. Vejamos: o que você faria com os ANEMOTÉCNICOS, caso se adote o que sugere?

– Não sei, respondeu João.

– Onde você colocaria os incendiadores de diversas especialidades?

– Não sei.

– E os indivíduos que têm ido ao estrangeiro para aperfeiçoar-se durante anos, cuja formação tanto custa ao país? Vamos colocá-los a limpar porquinhos?

– Não sei.

– E os especialistas em sementes em madeiras? E os construtores de estábulos de sete andares, com suas novas máquinas limpadoras e perfumadoras automáticas?

– Não sei.

– E os que têm se especializado todos esses anos para integrar os Congressos, Seminários e Jornadas para reformas e melhoramentos do SISTEMA, seu ‘resolve tudo’? Que faço com eles?

– Não sei.

– Você se dá conta agora de que a sua idéia não é a solução de que necessitamos todos? Você crê que se tudo fosse tão simples não o teriam descoberto antes nossos especialistas? E o que os autores dizem disso? Que autoridade pode apoiar a sua afirmação? E o que faço com os bosques já preparados, prontos para serem queimados, cujas árvores não produzem frutos e cuja escassez de folhas faz com que não sirvam para sombra? Que faço? Diga-me?

– Não sei.

– Que faço com a Comissão Redatora de Propostas de Assamento com o Departamento de Classificação e Seleção de Porcos, Arquitetura Funcional de Estábulos, Estatística e População, etc.?

– Não sei.

– Diga-me: o engenheiro de Porcopirotecnia, Dr. D.C. Figuração, não é extraordinária personalidade científica?

– Sim. Parece que sim.

– Bem. O simples fato de possuir valiosos e extraordinários engenheiros em Pirotecnia indica que O SISTEMA é bom. Que faço com indivíduos tão valiosos?

– Não sei.

– Viu? Você, o que tem a fazer é descobrir como fazer novos ANEMOTÉCNICOS, como conseguir mais rapidamente incendiadores de oeste (que é nossa dificuldade maior), como fazer estábulos com melhores pisos ou como melhorar o solo. TEMOS DE MELHORAR O QUE TEMOS E NÃO MUDÁ-LO. Traga-me você uma proposta para que nossos cursos na Europa custem menos, como fazer uma boa revista para análises profundas do problema da reforma do assamento. É disso que necessitamos. É de que o País necessita. A você o que falta é a sensatez, Senso Comum. Diga-me, por exemplo, o que faço com meu bom amigo (e parente) o Presidente da Comissão para o Estudo de Aproveitamento Integral dos Ex-Bosques?

– Realmente, estou perplexo, disse João.

– Bem, agora que conhece bem o problema, não vá por aí dizendo que você o resolve completamente. Agora vê que o problema é mais sério e não tão simples como se imaginava. Um que está por baixo e de fora diz: ‘Eu resolvo tudo!’. Mas tem-se de estar por dentro para conhecer os problemas e saber as dificuldades. Agora, aqui entre nós, eu lhe recomendo que não insista no seu método, porque poderá trazer-lhe dificuldades com o seu posto. Não por mim! Digo para o seu bem, porque o compreendo; entendo o seu plano, mas, você sabe, pode encontrar-me com outro superior menos compreensivo, você sabe como são às vezes, hein?

E o pobre João Senso Comum não disse nada. Sem se despedir, entre assustado e estonteador, com a sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu e não foi visto nunca mais. Não se sabe para onde foi. Por isso é que dizem que nessas tarefas de reforma e melhoria do SISTEMA, falta sempre ‘SENSO COMUM’…

Gustavo F. Girigliani: La Escolaridad Enjuiciada.
Esta fábula foi publicada originalmente na revista
Cátedra Y Vida, Buenos Aires, 1959.

Tradução de Sandra Diniz Costa.
Uberlândia – Minas Gerais."