quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O REINADO DAS CARAVELAS

Sob o signo de tão grandes inovações, o impulso exploratório lusitano foi retomado e a aventura do périplo africano se reiniciou. Em abril de 1441, a bordo de uma caravela, Nuno Tristão, "cavaleiro mancebo criado de pequeno na câmara do Infante",3 chegou a um promontório resplandescente de alvura, que batizou de Cabo Branco (hoje Noaudhibou, nordeste da Mauritânia). Na viagem de volta, encontrou-se com o navio de Antão Gonçalves, "guarda-roupa do Infante e homem assaz de nova idade",4 ancorado nos baixios do falso rio do Ouro.
Ali, depois de carregar o navio de peles e óleo de focas, Gonçalves, "por achar vergonhoso retornar à presença do Infante com tão pouco serviço prestado",5 decidiu capturar dois nativos. Esses azenegues foram os primeiros cativos trazidos da África para Portugal. Um deles era um nobre de nome Adahú, através do qual — via intérpretes mouros — D. Henrique enfim tomaria "conhecimento de mui grande parte das cousas daquela terra". As notícias dadas por Adahú foram de tal forma auspiciosas que o Infante de imediato enviou um embaixador a Roma para obter uma bula papal que lhe concedesse não apenas o monopólio no comércio com a África como a autorização para "fazer a guerra contra os infiéis, tirar-lhes as terras e escravizá-los". O papa Eugênio IV assinou tal bula em 19 de dezembro de 1442, e Nicolau V renovou-a em junho de 1452. Estava nascendo um império escravagista

(do livro A viagem do Descobrimento - de Eduardo Bueno)