Ao pé do Farol
“Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo
semelhante a eles e a isto denominam “educação”, nenhuma mãe duvida, no fundo do
coração, que ao ter seu filho, pariu uma propriedade; nenhum pai discute o
direito de submeter o filho aos seus conceitos e valorações.” (Friedich Nietzsche)
Li certa vez que, ao pé do Farol, não há luz. Mas, e o que
dizer, quando falamos não de uma proximidade geográfica, mas emocional, como na
relação entre pai e filho, por exemplo?
Somente hoje, distante do meu pai, vejo o suficiente para
enxergar, com relativa nitidez, a luz de seu Farol e para compreender a
liberdade acolhedora de seu amor que, à época, eu percebia como sufocante e
limitador.
Foi preciso jogar-me ao mar, navegar nas ondas e nas
intempéries daquilo a que chamamos vida, para vislumbrar não somente em que me
tornei, mas para reconhecer a segurança do porto de onde parti.
Só assim pude entender não apenas o que hoje sou, mas de que
raízes brotei...
Lembro-me de, quando jovem, ter dado a meu pai um livro do
genial poeta Kahlil Gibran. No capítulo “Dos Filhos”, Gibram escreve: “Vossos
filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas de vossas ânsias da vida por
si mesma.”
Eu, como todo jovem, clamava por liberdade. E, como jovem,
ignorante e esquecido dos perigos do desconhecido, enxergava apenas o mar que à
minha frente se expandia. Dar o livro a meu pai era como dizer a ele: “me deixa
viver, me conceda a liberdade plena da experiência.”
Lembro que toda vez que discutíamos sobre liberdade ele me
falava dos perigos que a vida nos reserva. Mas eu, que estava ao pé do Farol,
enxergava apenas a beleza do horizonte e meus olhos não percebiam a dureza do
percurso...
Hoje sou pai. Os filhos crescem, amadurecem, e percebo que,
como muitos pais, continuo a trata-los como se tivessem sempre a mesma idade, a
mesma mentalidade, as mesmas fraquezas...
Como hoje eu entendo que, para aprender a navegar,
precisamos desafiar os tormentos e as borrascas do mar, é chegada a hora de
aceitar um dos inevitáveis desígnios da vida: se nossos filhos estão ao pé do
Farol , eles só poderão ver a luz se entrarem mar adentro ... e o melhor que
podemos fazer, é desejar-lhes boa viagem e torcer para que carreguem consigo um
pouco de suas raízes. (Autor
Desconhecido)
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