sexta-feira, 6 de março de 2015

Ao pé do Farol

“Os pais fazem dos filhos, involuntariamente, algo semelhante a eles e a isto denominam “educação”, nenhuma mãe duvida, no fundo do coração, que ao ter seu filho, pariu uma propriedade; nenhum pai discute o direito de submeter o filho aos seus conceitos e valorações.”                (Friedich Nietzsche)

Li certa vez que, ao pé do Farol, não há luz. Mas, e o que dizer, quando falamos não de uma proximidade geográfica, mas emocional, como na relação entre pai e filho, por exemplo?

Somente hoje, distante do meu pai, vejo o suficiente para enxergar, com relativa nitidez, a luz de seu Farol e para compreender a liberdade acolhedora de seu amor que, à época, eu percebia como sufocante e limitador.

Foi preciso jogar-me ao mar, navegar nas ondas e nas intempéries daquilo a que chamamos vida, para vislumbrar não somente em que me tornei, mas para reconhecer a segurança do porto de onde parti.
Só assim pude entender não apenas o que hoje sou, mas de que raízes brotei...

Lembro-me de, quando jovem, ter dado a meu pai um livro do genial poeta Kahlil Gibran. No capítulo “Dos Filhos”, Gibram escreve: “Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas de vossas ânsias da vida por si mesma.”

Eu, como todo jovem, clamava por liberdade. E, como jovem, ignorante e esquecido dos perigos do desconhecido, enxergava apenas o mar que à minha frente se expandia. Dar o livro a meu pai era como dizer a ele: “me deixa viver, me conceda a liberdade plena da experiência.”

Lembro que toda vez que discutíamos sobre liberdade ele me falava dos perigos que a vida nos reserva. Mas eu, que estava ao pé do Farol, enxergava apenas a beleza do horizonte e meus olhos não percebiam a dureza do percurso...

Hoje sou pai. Os filhos crescem, amadurecem, e percebo que, como muitos pais, continuo a trata-los como se tivessem sempre a mesma idade, a mesma mentalidade, as mesmas fraquezas...


Como hoje eu entendo que, para aprender a navegar, precisamos desafiar os tormentos e as borrascas do mar, é chegada a hora de aceitar um dos inevitáveis desígnios da vida: se nossos filhos estão ao pé do Farol , eles só poderão ver a luz se entrarem mar adentro ... e o melhor que podemos fazer, é desejar-lhes boa viagem e torcer para que carreguem consigo um pouco de suas raízes.                                (Autor Desconhecido)

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