sexta-feira, 11 de maio de 2018


Somos bons?
  Essa é uma questão essencialmente filosófica que surge em terapia depois que o paciente começa a questionar o modelo do fazer, sua educação anterior e a natureza do bem e do mal. A maioria das pessoas passa a vida pensando que não presta, que precisa ser punida, controlada ou reprimida porque sua verdadeira natureza é baixa e maligna.
Uma escola de pensamento define o homem como essen­cialmente mau. Com base nessa filosofia, nasceu a necessidade de poder e controle para que instituições como a Igreja e o Estado do­minassem as massas. Essas instituições usam a punição e a disciplina férrea para manter a ordem, amedrontar e subjugar, impedindo que se espalhem as sementes de nossa "maldade" inerente. Essa linha de pensamento acredita que o homem não consegue tomar decisões e que é preciso uma liderança forte (ditadura) para manter as massas no rumo "certo" (O Senhor das Moscas, de William Golding, é um romance assustador baseado nessa crença filosófica).
A escola filosófica oposta prefere acreditar na bondade ine­rente do homem e na premissa de que, quando tem escolha, ele tende a fazer o bem mesmo que isso seja mais difícil e compli­cado.
O paradoxo dessa escolha é o fato de que, embora a opção pela bondade não seja a mais simples, seu resultado é uma vida "mais fácil". Muitas vezes, optar pelo bem não parece certo, ao passo que a escolha mais fácil pode parecer inicialmente melhor, mas resultar em uma forma de maldade. Um exemplo perfeito desse paradoxo é o conceito de zelo. Nosso modelo do fazer define todo comportamento zeloso como bom, o que nem sempre é verdade. Quem precisa de cuidados não consegue manter-se no controle da própria vida. A escolha da bondade, portanto, e o controle sobre essa escolha pertencem a quem dá, e não a quem recebe cuidado, o que é o oposto da intenção. Pode haver uma forma de maldade quando a pessoa que cuida recebe todo o crédito pelo ato e não permite que o alvo de seus cuidados tenha nenhum poder nem controle sobre as conseqüências. Nesse caso, a opção por não cuidar pode ser "melhor", mas não será a mais fácil. Escolha envolve aprendizado e prática. A prática da bondade é um processo de tentativa e erro.
Você é bom! Você pode escolher entre praticar ou não a bondade. Pode assumir a responsabilidade por sua vida e seus atos. Pode tomar conta de si mesmo. Você pode acreditar em sua bondade e na bondade alheia. Dessa forma, pode tornar-se um exemplo de bondade.

(Suzana McMahon – O Terapeuta de Bolso)