Somos bons?
Essa é uma questão essencialmente filosófica que
surge em terapia depois que o paciente começa a questionar o modelo do fazer, sua educação
anterior e a natureza do bem e do mal. A maioria das pessoas passa a vida
pensando que não presta, que precisa ser punida, controlada ou reprimida porque sua verdadeira natureza é baixa e maligna.
Uma escola de pensamento define o homem como essencialmente mau. Com base
nessa filosofia, nasceu a necessidade de poder e controle para que
instituições como a Igreja e o Estado dominassem as massas. Essas
instituições usam a punição e a disciplina férrea para manter a
ordem, amedrontar e subjugar, impedindo que se espalhem as sementes
de nossa "maldade" inerente. Essa linha de pensamento acredita que o
homem não consegue tomar decisões e que é preciso uma liderança forte
(ditadura) para manter as massas no rumo "certo" (O Senhor das Moscas, de William Golding, é um romance assustador
baseado nessa crença filosófica).
A escola filosófica
oposta prefere acreditar na bondade inerente do homem e na premissa de que,
quando tem escolha, ele tende a fazer o bem mesmo que isso seja mais difícil e
complicado.
O paradoxo dessa escolha é o fato de que, embora a opção pela bondade não seja a
mais simples, seu resultado é uma vida "mais fácil". Muitas vezes,
optar pelo bem não parece certo, ao passo que a escolha mais fácil pode parecer
inicialmente melhor, mas resultar em uma forma de maldade. Um exemplo perfeito
desse paradoxo
é o conceito de zelo. Nosso modelo do fazer define todo comportamento zeloso como bom, o que nem
sempre é verdade. Quem precisa de cuidados
não consegue manter-se no controle da própria
vida. A escolha da bondade, portanto, e o controle sobre essa escolha pertencem a quem dá, e não a quem recebe
cuidado, o que é o oposto da intenção. Pode haver uma forma de maldade quando a pessoa que cuida recebe todo o crédito pelo ato
e não permite que o alvo de seus cuidados tenha nenhum poder nem controle sobre as conseqüências. Nesse caso, a opção por
não cuidar pode ser "melhor",
mas não será a mais fácil. Escolha envolve aprendizado e prática. A
prática da bondade é um processo de tentativa e erro.
Você é bom! Você pode escolher entre praticar ou não a
bondade. Pode assumir a responsabilidade por sua vida e seus atos. Pode tomar conta
de si mesmo. Você pode acreditar em sua bondade e na bondade alheia. Dessa
forma, pode tornar-se um exemplo de bondade.
(Suzana McMahon – O Terapeuta
de Bolso)
Exato, até porque para o mau prevalecer, basta que os bons se calem
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