segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Comunicação

A boa comunicação é um fator importante nos relacionamentos. Comunicar-se bem é mais que conversar. Há muitos casais que passam a vida juntos e conversam bastante, mas não se comunicam. Há também o oposto: casais que parecem conversar pouco, mas são verdadeiramente íntimos e ligados um ao outro. A comunicação é um meio de obter intimidade com o outro. É uma maneira de partilhar e sentir-se incluído. A boa comunicação faz com que o outro nos conheça de verdade e nos apóie quando precisamos. É uma das maiores alegrias da vida. O interesse social envolve boas habilidades de comunicação.

         Habilidade é uma palavra-chave para entender o que é comunicação. Há gente de sorte que se comunica naturalmente com os outros, mas a grande maioria precisa aprender, o que, felizmente, é possível. Paradoxalmente, os bons comunicadores são sempre bons ouvintes e não precisam ser bons oradores. Isso porque aprendemos a falar, mas não a ouvir. Ouvir de verdade é muito difícil porque é preciso haver interesse pelo outro, muita concentração e paciência. Por isso é mais divertido falar do que ouvir. Assim, a maioria quer se divertir e não sobram muitos bons ouvintes. Se ouvirmos realmente o que os outros dizem, perceberemos como isso é estranho. É preciso ter aptidão para esperar que o outro termine de falar e nos concentrar no que ele diz, e não no que nós dizemos. Podemos, entretanto, aprender a repetir o que acabamos de ouvir em vez de pressupor o que foi dito. É difícil parar de pensar e nos concentrar no outro — e é surpreendente perceber como é diferente o processo de ouvir.

         A boa comunicação envolve um repertório de resolução de problemas e também a capacidade de dar apoio. São duas habilidades diferentes para ser usadas em momentos diferentes. A maior parte de nossas comunicações visa à solução de problemas. Alguém comenta alguma coisa e você dá seu parecer sobre o que faria na mesma situação. Seu companheiro diz, por exemplo: "Estou com raiva. Não sei o que fazer".Você responde: "Hoje eu também fiquei bravo e resolvi gritar. Por que não faz o mesmo?" Esse é um exemplo de comunicação que visa à solução de problemas. Em outro exemplo, seu cônjuge diz: "Eu me atrasei porque acabou a gasolina do carro no caminho".Você responde: "Que descuido, você devia ter enchido o tanque antes de sair". A resolução de problemas é uma grande forma de comunicação quando, e somente quando, alguém pede seu conselho. Você provavelmente abusa desse tipo de comunicação. Corre a dar conselhos antes que lhe peçam, portanto não se surpreenda se as pessoas reagirem negativamente.

As habilidades de apoio são mais raras e mais difíceis de aprender. Elas são o oposto da resolução de problemas.Você não dá sua opinião nem seus conselhos a não ser que lhe peçam. Mesmo assim, precisa descobrir o que o outro está pensando antes de dar uma resposta. A comunicação de apoio tem por objetivo levar o outro a sentir-se bem porque resolveu o problema. Pensando bem, a maioria de nossas comunicações serve para demonstrar nossa inteligência ou nossa capacidade. A comunicação de apoio transfere totalmente o ônus da conversa para o outro. Permite que ele diga tudo o que quer sem interrupções nem discussões. Isso significa ouvir de verdade. A comunicação de apoio favorece a reflexão pela repetição do que o outro diz. Significa ouvir objetivamente e preterir sua necessidade de falar para permitir que o outro se expresse. Suspende julgamentos, pressuposições e suposições. Não é de admirar que seja difícil. Seu parceiro diz, por exemplo: "Estou com raiva. Não sei o que fazer". Um comunicador de apoio diria: "Estou ouvindo, você está com raiva" ou "O que quer fazer?" ou ainda "Por que está com raiva?" Talvez o comunicador não diga nada, mas demonstrará seu interesse de forma não-verbal ao interromper o que está fazendo, encarar o interlocutor e ouvir objetivamente. Habilidade de apoio significa que o outro sabe que você está ali para ajudá-lo e vai ouvi-lo sem julgamentos. Para fazer isso com eficiência, é preciso ter muita auto-estima. Não é possível estar carente de atenção e dar apoio por muito tempo. Mais cedo ou mais tarde, as necessidades do ouvinte prevalecerão e ele tentará tornar-se o foco da comunicação. Se você pretende desenvolver habilidades de apoio, mantenha o foco da conversa no outro enquanto ele tiver necessidade de falar.

Os terapeutas, os consultores, as enfermeiras e outros profis­sionais que trabalham com aconselhamento aprendem a comu­nicação de apoio como parte de suas funções. É impressionante constatar que praticamente não transferimos essas habilidades profissionais para a vida pessoal. Não há lugar mais importante para praticar essas habilidades do que o próprio lar. Lá estão as pessoas que amamos e que nos amam. E, ainda assim, o lar é sem dúvida o lugar mais difícil para praticá-la.

A boa comunicação ocorre quando mudamos a proporção entre a solução de problemas e a conversa de apoio. Usamos provavelmente o primeiro tipo durante 90% do tempo, deixando apenas 10% ou menos para o outro tipo. Se invertêssemos essa proporção, haveria mais interesse social no mundo. Saberíamos que somos ouvidos, que compartilhamos nossas idéias com os entes queridos e que fazemos parte de alguma coisa maior.

(O Terapeuta de Bolso)

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