sábado, 17 de março de 2018


          

Quando ajudar e quando não ajudar


          Em primeiro lugar, certifique-se de que o outro precisa de sua ajuda. Não faça suposições e não ofereça ajuda quando é você quem precisa dela. O tiro pode sair pela culatra. Evite a necessi­dade de ser necessário. Essa é outra armadilha na qual podemos cair facilmente. Tenha certeza de que sua oferta — tempo, energia, serviços, sacrifício — é gratuita, que não há outros motivos por trás dela. Se lhe pedirem ajuda quando você não quiser, mas achar que deve dar, certifique-se de que é temporária. Assim, saberá exata­mente a dimensão do problema e o momento certo de parar. Se não puder, não faça. Se perceber que se envolveu numa situação que exige muito de você, que pode lhe provocar mágoa ou raiva, pare. É melhor não ajudar se isso vai prejudicá-lo. Não há lei que proíba a interrupção da ajuda quando ela se torna desnecessária ou onerosa. Cuidado com as pessoas que esperam eterna gene­rosidade de sua parte. Elas não têm auto-estima e podem fazê-lo perder a sua.
       A história seguinte é um exemplo claro do perigo da doação exagerada.

    Numa floresta mora um pântano que está sempre deprimi­do, triste e infeliz da vida. Um belo dia, um trator novinho em folha sai da linha de montagem e vai passear na floresta onde mora o pântano. O trator assobia e canta feliz por estar vivo quando chega perto do pântano.
     — Bom-dia! — diz ao pântano. — Não é um dia maravilhoso?
    — Aahh! — responde o pântano. — O que há de tão maravilhoso? Estou preso aqui na parte mais escura da floresta, onde o sol nunca aparece. Estou cansado de ser pântano.
   — Gostaria de ajudá-lo — diz o inocente trator. — Posso fazer alguma coisa? — O pântano pensa por alguns momentos.
   — Bom, se quer ajudar de verdade, acho que poderia jogar um pouco de terra em mim. Assim deixarei de ser um pântano.
   — Que ótima idéia! — exclama o trator.— Fico feliz em ajudá-lo a deixar de ser um pântano!
   E o entusiasmado trator começa a cavar e a jogar terra no pântano. Passam-se algumas horas e nada acontece. O pântano começa a reclamar.
   —Acho que você está lento demais, por isso não vejo diferença. 
  — Está bem — responde o trator. —Vou cavar mais depressa. 
  O dia passa  e o tratorzinho começa a ficar cansado. 
 O pântano continua do mesmo jeito que estava de manhã. E fica bravo com o trator.
— Se você gostasse de mim de verdade, faria isso melhor. Acho que não se importa comigo.
Até então, o trator passara o dia inteiro ajudando o pântano e se sente na obrigação de continuar.Assim, esforça-se mais apesar de estar cansado e fraco. Cava durante a noite toda, enquanto o pântano dorme, e continua na manhã seguinte debaixo das re­clamações do ingrato. O trator literalmente morre de tanto cavar e começa a afundar no pântano. Não existem provas de que ele realmente esteve lá. O pântano continua pântano e espera que outro trator venha salvá-lo de seu destino.

O que o trator poderia ter feito? Se tivesse auto-estima, se soubesse como se cuidar, poderia ter perguntado ao pântano o que estaria disposto a fazer para mudar. Poderia ter passado pelo pântano e percebido que ajudá-lo era uma armadilha perigosa. Se fosse um trator com interesse social, poderia ter oferecido ajuda temporária ao pântano. Assim, quando percebesse que sua ajuda seria inútil, poderia ter seguido seu caminho feliz da vida mesmo sabendo que o pântano continuaria a ser pântano. Em todos os casos, se o trator tivesse auto-estima não daria sua vida pelo pântano.

     Algumas pessoas são como esse trator (doador), que foi atraído pelo pântano (receptor). Para mudar esse final trágico para um desfecho feliz, tanto o trator quanto o pântano precisariam cuidar de si mesmos. Os pântanos do mundo devem aprender a fazer as coisas por si próprios e os tratores a deixar que os pântanos façam isso. Os tratores devem permitir que os pântanos continuem pântanos. Por ser tão generoso, o doador reduz o receptor a uma posição inferior, ao papel da vítima que sempre se magoa e odeia seu salvador. É possível perceber como o receptor é destrutivo, mas o doador também é assim. O objetivo do doador — sentir-se bem e receber o crédito pelo resultado — é um sacrifício muito maior do que o receptor deseja.

     Lembre-se da teoria do pote de biscoitos: faça biscoitos primeiro para você e depois para os outros. Ofereça ajuda quando tiver muito para dar e não se sentirá vazio por causa dessa atitude. Sacrifique-se pelo outro, mas não permita que ele perceba isso nem que esse sacrifício onere demais você. Quando sentir que o sacrifício está além de suas possibilidades, pare e cuide de si mesmo.

Suzana McMahon

2 comentários:

  1. Esse texto é muito importante pra refletirmos sobre quando devemos deixar de ajudar sem sentirmos que estamos agindo com falta de amor ao próximo. Sem dor de consciência. A oração de São Francisco de Assis fala muito bem sobre isso.

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  2. É o significado da máscara de oxigênio no avião; se for ajudar alguém, primeiro coloque a máscara em si, para depois ajudar outrem

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